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quinta-feira, 10 de março de 2016

De "Aprendendo a mentir" até "Praieiro"



A primeira vez que ouvi falar sobre Selvagens à procura de lei (ou apenas sapdl) foi lá em meados de 2011. Uma banda nova aparecendo na cena em Fortaleza. Eu mesma não me instiguei pra ouvir de início. As pessoas falavam muito, mas sempre tive muita preguiça de ir atrás deles pra ouvir algo. Em contrapartida todos meus amigos não paravam de cantar suas músicas nas rodinhas de violão. Várias vezes deixei de ir a alguma apresentação de graça por pura preguiça.
Então tempos depois uma amiga minha disponibilizou os dois CDs deles em um pen driver para que eu ouvisse.

Ok.

Eu havia perdido tanto tempo, mas tanto tempo ouvindo outras coisas quando tinha uma obra prima em minhas mãos. Uma banda muito boa, cearense, com letras incríveis, arranjos super massas. Não precisei me forçar a gostar deles ouvindo várias vezes até me identificar (como aconteceu com algumas bandas antes).
E foi assim que sapdl entrou em minha vida. Ali por volta de 2013, quatro anos após sua fundação.
Temos dois vocalistas (inicialmente): Gabriel Aragão e Rafa Martins. No baixo temos o Caio Evangelista e a batera conta com o Nikão. Posteriormente o Nikão começou a cantar algumas músicas.

O primeiro CD intitulado Aprendendo a Mentir é de 2011. Foi independente, onde ele já começa com a música insana "Amigos Libertinos". Era o álbum de lançamento, então nele podemos ver uma proposta de crítica a sociedade como um todo. Mas não uma crítica como Legião Urbana fazia. Tínhamos um rock muito bom, com arranjos muito bons e com cantores muito bons. E foi isso que me prendeu logo de início. Fora que o álbum é todo sobre Fortaleza. A intitulada "Mucambo Cafundó" é uma cidade onde em 2011 apresentou o melhor índice de desenvolvimento de educação básica de todo o nordeste. Então temos os versos "E aqui ninguém se importa tanto com Mucambo cafundó". Um crítica verdadeira à atenção que não demos para isso. Aliás, como todo o Brasil, não é?
"Esperando pelo 051" é uma música que apenas quem mora em Fortaleza vai entender de primeira. É o ônibus Grande Circular I. Quem nunca dessa cena underground daqui da cidade nunca esperou pelo 051 naquelas paradinhas ali de qualquer terminal ou do aterro da Praia de Iracema? E as vezes ele demorava pra caramba, fora que rodava a cidade inteira.

Já o segundo álbum intitulado Selvagens à Procura de Lei veio em 2013. Foi gravado pela Universal Music e com ele veio a conta na VEVO e, obviamente, o reconhecimento nacional da banda.
É um disco onde você vê que é muito mais maduro. Tanto nas vozes, tanto nos arranjos e, principalmente, na banda como um todo. Já começa com "Massarrara" que é uma das minhas músicas favoritas. É, claramente, uma crítica à política nacional. Ele também trás "Brasileiro" que, com o mesmo tema, mostrou que as músicas críticas não estavam mortas. Rock de qualidade nos anos 2000 era possível. Vale ressaltar que é possível ver o amor por Fortaleza implícito nas letras como "Meninos de rua, cidade dois mil, Somos a Praia do Futuro do Brasil" em Massarrara e "Nasci e me criei em Fortaleza, não tenho e nem faço questão da vossa nobreza" em Brasileiro.
Temos "Sr. Coronel" que é sobre um homem que viveu muito tudo intensamente, mas acabou ficando sozinho por causa do seu egoísmo. "Mar Fechado" que é a música mais psicodélica que a banda fez até hoje. E "Despedida" onde, pela primeira vez, Nikão nos mostra sua voz a lá Tim Maia no refrão brandando "Eu me dei conta de mim mesmo..."
O Álbum está cheio de músicas excelentes, assim como o primeiro. E percebemos um amadurecimento, ao mesmo tempo que a essência é a mesma.

Nesse meio tempo eles lançaram o single "Bem vindo ao Brasil" onde a crítica não é mais direcionada aos políticos e sim aos próprios brasileiros.

Era isso que eles gostavam de fazer, estava claro que eles se divertiam cantando suas músicas nos shows no Órbita bar ou no Maloca Dragão. No Anfiteatro, as vezes nos teatros espalhados pela cidade. Eles sempre foram respeitados e amados por trazer um rock de qualidade na cena. E foram e são influências pra várias bandas cearenses, inclusive me incluo nesse grupo. Então eles se mudaram pra Sampa e lá começaram a planejar o terceiro álbum que contou com a ajuda do Catarse pra ser feito.

Então em 2016, no dia 01 de março, pra ser exata, eles lançaram o tão esperado Praieiro, que está disponível no spotify pra quem quiser ouvir. Algumas músicas não eram mais novidades como "Tarde Livre" ou "Dois de fevereiro". Estava indo a alguns shows já e desde o ano passado eles estavam divulgando algumas músicas do álbum. E eu confesso que fiquei bem decepcionada com o que ouvia nos shows. Percebi uma pegada mais de surf music, reggae, menos guitarras. Em compensação percebi que Caio e Nikão cantavam mais.
Pois bem, no dia do lançamento acordei e fui direto ouvir o álbum. Não era surpresa que teria muito mais influência do reggae e que as músicas eram mais curtas. Apenas duas músicas ultrapassaram os quatro minutos. Algumas boas surpresas como "Sangue bom" que também é uma crítica e onde o Caio canta. A saudade de casa impera em "Tarde Livre" onde eu quero falar mais sobre isso posteriormente, Tom Zé é homenageado com a música "O amor é um rock 2" fazendo uma alusão a música "O amor é um rock". "Projeto de vida e o que será o amanhã" que carrega a voz de Nikão. O instrumental também ficou muito bom no geral principalmente na faixa "Praieiro". Eu curto o estilo sim, existem bandas aqui em Fortaleza e no Brasil que carregam esse estilo. A questão toda foi a mudança brusca dos dois últimos álbuns pra esse terceiro.
A primeira vez que ouvi, confesso que fiquei intrigada. E mais, não gostei. Exceto duas ou três músicas, achei que não tinha ficado bom por vários motivos. Um deles era a falta das guitarras que tinha nos outros álbuns. A exploração mais do reggae não seria um problema se eu não sentisse que foi algo forçado. E eu tive essa primeira impressão.

MAS CALMA LÁ!

Sabemos que bandas mudam no decorrer dos anos. E essas mudanças podem ser bruscas e não agradar o público de alguma maneira. Obviamente muitos fãs estão insatisfeitos com esse novo álbum.
E faço parte dessa levada de fãs que estão decepcionados? Se eu disser que me agradou 100% não estaria sendo sincera. Mas quanto mais ouço o álbum, mais eu percebo sacadas legais que não tinha percebido na primeira vez.

Ontem estava conversando e tomando uma cerveja com um grande amigo e cantor desse mundo de Surf Music. O Micael, vocalista da A.R.S, disse que amou. Simplesmente adorou. E que antes ele não curtia muito o estilo dos caras. Claro, é a vivência dele. E acho válido o pensamento dele sobre essa mudança brusca. Se foi de alma e coração, com certeza eles vão colher bons frutos. Talvez percam alguns fãs nessa caminhada. Mas é isso aí, para algumas coisas darem certo requer algum sacrifício. Mas se é de coração, se é com amor, se é de alma mesmo, é válido.
Partindo desse princípio, se Selvagens à Procura de Lei fez esse álbum com amor, acredito que vale a pena ouvir e reouvir, que redescubram as músicas. Que passemos a ver a banda de uma perspectiva nova, com arranjos novos, com uma pegada diferente e com o coração aberto pra poder gostar de verdade.

Eu vou ouvindo aqui os antigos e novos pra tentar ver uma ligação direta. Desejo que eles tenham muito sucesso, pois sair de casa pra morar em outro estado pra poder viver de um sonho não deve ser fácil. Eu posso imaginar que não deva ser fácil. Não me imagino saindo de Fortaleza pra coisa alguma.

E se um dia sair, provavelmente vou sentir algemas presas em meus pés.

Fique com Praieiro e conheça mais a banda:


2 comentários:

  1. Que texto!
    Quero ser você quando crescer. hahaha

    Sobre Praieiro, eu gostei demais! Assim como os outros dois. Fiquei de coração partidor quando perdi todas as músicas que tinha deles, até as do primeiro EP, no meu computador. Mas eu gostei, talvez, porque to numa vibe de reggae ultimamente... Eu gostei mesmo do instrumental e dos outros integrantes da banda cantando.

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    Respostas
    1. Hey Rejane! Obrigada hahaha
      Eu tenho todos aqui, resolvi não falar dos EPs senão ia ficar mais extenso do que está. Eu também estou nessa vibe de reggae, tenho ouvido bastante. Mas é como eu disse, ne? Foi uma mudança brusca. Mas ando curtindo bastante.

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