O Catatau e a humildade de prestigiar as bandas marginais - Cidade Marginal

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segunda-feira, 18 de abril de 2016

O Catatau e a humildade de prestigiar as bandas marginais


Duas coisas importantes antes de ler:

: Esse texto vai ser totalmente injusto com a banda Cidadão Instigado pois, obviamente, eu vou falar de experiência pessoal sobre uma determinada pessoa. Embora ame a banda, provavelmente não me voltarei para o som ou mudanças como fiz com o texto do Selvagens à procura de Lei.
: Vai ser totalmente passível pois, além de fã da banda, sou fã também da Pessoa Fernando Catatau. Pensei bastante antes de escrever um texto, mas decidi fazê-lo pois o blog é meu, não é mesmo?

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A história começou quando uma grande amiga me mostrou um som psicodélico e progressivo alguns anos atrás. Torci o nariz. Ora mais, eu não tinha achado nada encantador naquele som e muito menos naquela voz meio desafinada do vocalista.
Mas resolvi ouvir um dos seus álbuns de deixei passar.
O tempo passou.
A Flávia mudou, seus gostos mudaram. Passou a compreender o mundo ao seu redor, suas perspectivas e até seus gostos musicais se modificaram no decorrer do tempo.

E onde Cidadão Instigado entra nessa história?

Entra em 2015, praticamente no segundo semestre quando conheci alguém bem fã da banda. Ainda tinha relutância com a banda simplesmente pelo fato de uma primeira impressão errônea. Porém antes mesmo de gostar da banda ou do seu vocalista, esse meu amigo me levou para uma apresentação no Anfiteatro Dragão do Mar intitulada "Cearábia". E um dos idealizadores/diretores era o Fernando Catatau. O cara estava lá dirigindo um dos espetáculos mais lindos que vi na vida que misturava dança e música, fazendo uma viagem da Arábia Saudita até aqui no Ceará (depois fez sentido, pois descobri que Catatau é descendente de árabes).
Tempos depois coloquei lá pra ouvir o último CD intitulado "Fortaleza" 2015 (que, pra mim, é uma das maiores obras primas não só da banda, mas também a nível nacional),
Talvez tenha sido essa genialidade que me fez me apaixonar não somente pela banda, mas como por todos os integrantes e, obviamente, Fernando Catatau. Vocalista e também letrista da banda.
Tive raiva por não ter dado a devida atenção àquele som anos antes. Poderia ter curtido "O Pinto de Peitos" ou "Deus é uma viagem", podia ter chorado minhas desilusões ao som de "O tempo" ou "Como as luzes", poderia ter repetido mil vezes "Te encontra logo", ter dançado "Escolher pra quê" no meu quarto várias vezes.
Não apenas a banda fazia sentido pra mim, mas o tempo inteiro uma banda que se formou praticamente aqui em Fortaleza e eu não conhecia, agora era uma das minhas bandas favoritas.

E foi aí que tive a sorte de encontrar Catatau duas vezes por essa cidade. Quieto na dele, de poucas palavras, sorriso meio escondido, ele parecia não gostar de atenção.
A primeira vez foi no aterro da praia de Iracema, um dia antes deles tocarem no carnaval de Fortaleza. Quase não acreditei pois ele estava LOIRO!
Rapidamente falei com ele, parabenizei pelo trabalho, disse que estaria no dia seguinte prestigiando o som da banda.
A segunda foi sábado agora, dia 16/04, no Casarão Benfica onde levarei minha música dia 07 de Maio. Foi uma surpresa vê-lo ali. Ainda cheguei a cumprimentar, falar, dizer que tocaria ali. Ele foi simpático e receptivo, falou que tentaria aparecer principalmente porque estava morando em Fortaleza. E mais, foi ali pra ver uma banda local que estava crescendo e fazendo seu nome. Foi como um ouvinte.

E isso me fez pensar sobre nós, músicos e cantores, pessoas da arte em geral. Eu convivo o tempo todo com músicos, convivo o tempo todo com gente que vive de música ou tenta viver. Grande parte dos meus amigos estão batalhando aí por um lugar ao sol. E tantos de nós pagamos, literalmente, pra tocar. Seja com gastos de ensaio, seja com um cachê precário, seja com nossos amigos que não comparecem as nossas apresentações. É simples. Não é fácil viver de música
Mas algo que vejo é o estrelismo ridículo que temos visto em algumas bandas/pessoas que vivem disso. Sabemos que precisamos um dos outros.

Fui fazer música semanas atrás com um grande amigo, Micael Belo da banda A.R.S, e falamos sobre a questão das bandas aqui de Fortaleza serem amigas. Isso é importante, todos crescemos juntos. Fui prestigiar o som do Pablo Mendes e o lançamento do seu trabalho solo "Indiada Buena", das vezes que fui ver Caike Falcão pelos lugares da cidade, pelas ocupações que tivemos com os meninos da Old Books Room ou dos Capotes, com os show do Legado das Nuvens ou etc. Isso é importante para o crescimento das nossas bandas locais.
O problema começa quando percebemos que, simplesmente por um crescimento de fãs, uma abertura de portas, algumas pessoas mudam. simplesmente esquecem de onde vieram e tratam as outras pessoas como "nada". Antipatia nesse meio é comum. Infelizmente é comum. Mas isso não quer dizer que não deve ser combatida. Devemos lembrar sempre de onde viemos para poder saber para onde vamos.

E olhar o Fernando Catatau, músico, cantor, compositor de praticamente toda a genialidade de letras do Cidadão, andando pela cidade, por aí, pelos bares baratos, pelas festas que ninguém vai, ouvindo o som de gente que ninguém ouve, é um tapa seguro em nossa cara. Simplesmente olhando pra situação atual, alguém que já tocou no Rock in Rio com Júpiter Maçã, teve projetos massa com o Amarante, toca com a Karina Buhr e já produziu CD do Arnaldo Antunes (!!!!!!!!!!) estava ali num lugar que muitos dos nossos, os chamados "artistas", não estariam. Sentado em um batente cheio de areia, curtindo o som e conversando com seus amigos.

Longe de mim dizer que Catatau merece um altar. Deve ter seus defeitos como qualquer outra pessoa. Aliás, todo ser humano esconde defeitos muitas vezes irreparáveis.
Mas é o simples fato dele lembrar de onde veio que me faz admira-lo tanto assim. Fortaleza, Ceará, Brasil. Das ocupações, dos bares marginais, tocando com bandas que ninguém conhece (mas que são incríveis).
Ele chegou lá. E não digo no nível de ser conhecido nacionalmente.
Ele chegou lá quando ele valoriza a cena de sua cidade. Ele chegou lá quando ele tem a humildade de sorrir e olhar nos olhos dos seus fãs. Ele chegou lá quando ele é humilde o bastante pra saber que sempre pode aprender mais.

Isso que é massa nele. Isso que eu admiro não só em seu som, mas na sua simplicidade. Simplicidade nas músicas, simplicidade de pessoa.
E é por isso que eu digo que a resistência e a persistência tem que existir.

Somos o que somos porque um dia alguém acreditou que poderíamos melhorar.

EDIT:
A banda que ele foi prestigiar foi o Vitor Colares, que é um puta músico que tem esse trabalho lindo aqui:




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