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| Foto por: Micael Belo |
Eu não vivo de música.
Sim, é preciso dizer a verdade.
E não é por falta de vontade, mas é um conjunto de fatores bem óbvios que vocês devem saber quais são. Oportunidade e mercado.
E o que me intriga de fato é que: todos gostam de música, todos consomem música. Então por que é tão difícil viver de algo que todos consomem diariamente?
A questão não é o fato de que as pessoas consomem música, mas sim o tipo de música que elas consomem. O local que essa banda se encontra e outros fatores.
Sabemos que de modo geral, sertanejo universitário reina em nosso país. Aqui em Fortaleza, o forró universitário também é bem forte.
Obviamente não tenho nada contra esses estilos, apenas não sou o público alvo desse tipo de música. Mas não podemos esquecer que milhares de pessoas acompanham suas duplas e/ou bandas, e, obviamente, tem algo ali que atrai muitas pessoas.
E eu não ninguém para falar contra isso, sei que a cultura de massa existe e ela é forte. O fato de não gostar dos estilos, não posso falar que é ruim simplesmente por causa do meu senso. A verdade é que sim, eu acho ruim e você nunca me verá em uma festa de forró universitário, mas respeito quem ouve e gosta. Música é arte, e arte não se limite a o que um grupo de pessoas falam.
Quando aquele cantor, o Cristiano Araújo, morreu, fiquei um pouco pasma com a repercussão. Eu nunca tinha ouvido falar dele. Mas, aparentemente, ele tinha mais de um milhão de curtidas na página dele no facebook. Sim, um cantor que tinha tantos fãs e eu nunca nem se quer havia ouvido. E o mais incrível: ele vivia de música.
Quarta-feira da semana passada (dia 22/06), fui pra um encontro que rola toda 4ª quarta-feira do mês na Saraiva do Iguatemi aqui de Fortaleza. O evento se chama Mocker Rock Talks e é promovido pelo Igor Miná e pela Alinne Rodrigues, dois grandes produtores aqui da cidade que já lançaram ótimas bandas. E o tema da conversa era sobre imprensa e um dos palestrantes foi incisivo quando disse que sim, é possível viver de música.
E isso nunca foi tão verdade quando me lembrei do Cristiano e de como ele era conhecido e vivia daquilo. E ele era referência na música sertaneja e eu n u n c a havia ouvido seu nome.
Sobre ser possível viver em Fortaleza, aí eu já tenho minhas dúvidas.
A cidade fervilha a eventos incríveis onde tem uma galera que faz música de coração, onde tem gente que quer produzir e dar oportunidades. Temos editais e temos espaços abertos. A questão é, o quanto isso é valorizado por nós mesmos?
Já cantei em inúmeros eventos onde não ganhei nada, pelo contrário, gastei muito.
Sim, acho que o intuito de cantar e tocar é muito mais por gostar daquilo que fazemos. Não somos uma fábrica de dinheiro (pelo menos não em tese). Mas tenho a ligeira impressão de que quanto mais fazemos isso, mais deixamos as pessoas viciadas em desvalorizar nossa arte.
Lembro-me quando eu cantava em barzinhos a noite pela cidade. Era um bom trabalho, até dava alguma grana. Mas lembro como foi extremamente estressante ter que discutir com os donos porquê eles queriam pagar bem abaixo do teto. E ainda queriam ditar a hora pra pagar, e até a água era quase negada. Você tocar e cantar 4 horas sem direto a uma água direito e ainda tendo que receber um valor tão baixo que nem pra gasolina servia.
Era um bom trabalho, mas a desvalorização era imensa. Embora existissem lugares incríveis, isso foi realmente me cansando e eu percebi que não era feliz e não queria mais fazer aquilo.
Viver (ou tentar viver) de música é não somente ter que lidar com problemas financeiros, mas é ter também sua profissão desvalorizada como algo que não é trabalho e sim diversão. É seus pais olharem torto mesmo, é sua família te julgar e teus amigos nem se quer aparecerem nas tuas apresentações muitas vezes.
No final das contas, existe um peso muito grande em pessoas que já sabem que o caminho é árduo.
Não é fácil viver de música, não é nem um pouco fácil viver de sonho. E se você consegue lidar com isso, você está preparado pra entrar nesse mercado maluco que nem sempre a experiência vale, mas também um pouco de sorte e bons contatos.


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