Vamos falar sobre: demisexualidade

A primeira vez que eu ouvi esse termo, eu fiquei bem confusa. Estava eu navegando pelas águas turvas da web quando me deparei com uma publicação de uma linda em um grupo "Gente, eu sou demisexual." Então fui ler os comentários e vi um texto maravilhoso sobre o assunto que a Capitolina fez e que no final do post eu vou deixar linkado. E só aí então, descobri que não sou uma pessoa estranha, eu sou apenas uma pessoa diferente. E isso tem diferença.

Eu não vou me estender muito sobre o assunto de forma genérica, já que no link que vou postar, vai ter tudo explicadinho e mastigadinho. Mas vou me atentar mais pra minha vida pessoal e como isso foi uma grande descoberta em minha vida. Inclusive eu vou falar de coisas pessoais que talvez nunca tenha falado, então peço que relevem se o texto ficar longo, mas prometo que ao término desse texto, você vai entender, na prática, como uma pessoa demisexual encara a vida.

Basicamente uma pessoa demisexual sente desejo/atração sexual apenas por pessoas que elas estejam ligadas emocionalmente e/ou intelectualmente. Ou seja, precisa haver uma ligação pra que o desejo aflore. E essa ligação varia de pessoa pra pessoa. Pode durar semanas, meses ou anos.
É uma ramificação da sexualidade. Existem os assexuais, que é aquela galera que não sente vontade nenhuma de ter alguma relação sexual. Inclusive muitos sentem repulsa. Existem os alosexuais que é a galera que sente atração sexual por pessoas no geral. Daí temos os homo (que sentem atração por pessoas do mesmo sexo), os heteros (que sentem atração pelo sexo oposto) e os bi (que já sentem atração pelos dois indivíduos). Não vou me aprofundar pois iria ficar bem extenso, mas existem outras ramificações. Mas esses três sentem atração sexual normalmente por alguma pessoa. Não necessariamente isso está ligado a sentimentos ou ligações emocionais. Elas podem sentir atração sexual por alguém, mas não quer dizer que ela esteja emocionalmente envolvida.

Os demisexuais estariam bem ao meio dessas duas definições. Eles não são assexuados pois não repelem o sexo, mas também não são como os alosexuais que conseguem fazer a divisão: atração sexual e emocional.
Não. Não conseguimos isso por um único motivo: não há interesse algum em qualquer tipo de relação sexual que não seja, de fato, emocional e/ou intelectual.
Vale ressaltar que isso pode ser além do desejo sexual. O simples beijar uma pessoa aleatória em uma festa chega a ser sem sentido.

Pula pra 2003, ano que eu me mudei para essa casa que estou aqui agora. Eu tinha dez anos de idade e estava experimentando as novas sensações da pré adolescência. Sempre imaginei que minha vida estava na agulha, pronta pra saltar a qualquer momento. Em 2004 eu fazia a antiga 5ª série e estudava em uma escola aqui perto onde todas minhas amigas já tinham dado seu primeiro beijo. Eu queria beijar? Pra ser sincera sempre foi mais uma obrigação do que um desejo de verdade.
Então os anos se passaram e eu não beijava ninguém. Claro, tive minhas paixonites de adolescência, porém nenhuma era correspondida. Eu era uma menininha de muita baixa estima por isso. Mas eu nunca vi sentido em beijar alguém que não me sentisse apaixonada. Ou pelo menos envolvida. Então se esses rapazes não me correspondiam, não via necessidade de perder o famigerado "BV".

Aconteceu que alguns anos depois, apenas aos dezesseis anos de idade, beijei pela primeira vez. Não foi ruim, apenas não foi sensacional. Foi, no máximo, normal. Eu não era apaixonada pelo rapaz, eu apenas saí, vi um filme, foi massa, beijei. Fim.
Com o decorrer do tempo, eu não me apaixonava por ninguém, mas acabava ficando com os garotos porque minhas amigas estavam na vibe. Mas era algo bem pontual. Sempre ficava com garotos que conversava muito, alguns amigos. Mas nenhum me fazia sentir nada além de amizade.
Nesse meio tempo eu não sentia vontade alguma de me envolver sexualmente com ninguém, afinal, nem laço afetivo eu tinha.

Foi quando em meados de 2013 eu conheci o que seria meu primeiro namorado sério. E finalmente eu pude perceber o que era esse sentimento de troca. Amar e ser amada, ser respeitada e querida. Entendi o que era essa ligação tão bacana e profunda com alguém. E foi quando eu percebi que era isso que queria. Eu me sentia feliz com essa ligação emocional.

Quando terminamos em meados de 2015, instalei o famigerado Tinder (inclusive tenho um post sobre ele aqui) e comecei a conhecer as pessoas. Eu sempre achei que todas fossem como eu, sabe? Que precisassem dessa ligação profunda pra se envolver. Mas não, a maioria não precisava de muita coisa. Saber nome, idade e o básico já era o suficiente para ir pra cama. Então eu pensei: Ok, eu sou estranha e eu preciso agir da forma como eles agem.
Então estava eu tentando me adequar a um estilo de vida que nunca me acolheu. E comecei a sair com Deus e o mundo. E foi assim até perceber que isso não servia pra mim. E não serve.

Então decidi ficar na minha até poder entender o que se passava em minha mente e em meu próprio corpo. Comecei a focar em tantas outras coisas que pareceu mais fácil esquecer o fato de era uma negação quando se tratava de flerte. Eu sou uma negação mesmo. Eu posso começar uma conversa, eu sou extrovertida. Mas pra que isso se transforme em interesse real, a conversa tem que ser constante, quase diária. Eu não sou muito de me atentar pras pessoas ou coisas, eu sou livre e largada (alô espírito aquariano!), então se eu conversar todo dia é o mais puro sinal de que há envolvimento além do normal. E é assim que percebo que gosto de alguém. Quando eu, que não ligo pra falar com ninguém, vou lá e falo todo dia, como se o assunto nunca acabasse.

Eu vou deixar o link do texto da Capitolina pra vocês lerem e terem uma ideia do que é mais ou menos isso e de como a vida de alguém que descobre que é demi pode mudar de forma estrondosa. É mais fácil me aceitar assim. É mais fácil lidar e acreditar que não tem nada de errado por você não sentir atração física por alguém que todo mundo sente. Assim o mundo caminha, assim o mundo vive.

Espero que tenha sido um pouco esclarecedor para aqueles que procuram respostas e para aqueles que querem entender sentimentos. Não deixem de ler o texto!

Beijo!

Texto base: http://www.revistacapitolina.com.br/visibilizar-demissexualidade/